Guerra de paz

Guarde suas armas. Não tenho vocação pra capturar tiros de insegurança e lágrimas de insatisfação. Aprendi a violar as leis do peito com palavras. Carrego todas as certezas no bolso. Faço tiroteio com verbos, atiro forte na solidão. Planejo assaltos. Roubo corações. E raramente me arrependo. Sou refém de mim. 
Não aprendi a rastejar diante de qualquer ilusão. Minha guerra é doce. Meu exército é de açúcar. Sou sequestradora de doçuras. Lanço mísseis revestidos de risos. Nenhuma dor me prende. A cumplicidade com o acaso me liberta. Meus passos embora firmes tem o peso do algodão, meus olhos são informantes do amor. 
Esses mesmos olhos refletidos no espelho não me reconhecem. Perderam a arrogância dos que sabem tudo. No rosto - marcas de suavidade, tranquilidade de quem sabe o que é e se aceita. Perdi a guerra para discussões desnecessárias - aprendi a cantar. 
O tempo me ensinou que ele pode ser amigo, pode ser lento e me encontrar a sua espera, com pés descalços e flor no cabelo. 
 Renata Fagundes e Ju Fuzetto




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