Não é que eu viva, agora, com a impressão de que as coisas são sempre fáceis. De jeito nenhum: sei que existem coisas bem complicadinhas na história de cada um de nós e nesse enredo que vivenciamos juntos no mundo. Às vezes, um monte de vezes, eu me atrapalho toda para tentar achar solução para algumas e, de vez em quando, por mais que eu procure, acontece de eu nem achar num primeiro momento. Nem num segundo. Nem num terceiro. Nem num décimo. Algumas coisas, a propósito, não têm exatamente solução. Podemos aceitá-las da maneira como podem ser ou desperdiçar vida e energia preciosa a troco de nada. É questão de escolha. Antenada com o ecossistema da minha alma, costumo optar pelo não desperdício dos meus recursos naturais toda vez que é possível. Nem sempre é, a gente sabe.
O que mudou, e faz diferença à beça, é que eu vivo, agora, com a clara intenção de não tornar as coisas difíceis na prática. De olhar para elas com olhos mais flexíveis. De envolvê-las com a máxima leveza disponível. Dou menos importância ao que, no fundo, e às vezes até no raso, não tem importância alguma. Relevo. Troco de canal com mais tranqüilidade. Não pego mais tantas bolas que jogam na minha direção e sei que não são minhas. Dissolvo tanto quanto posso a minha antiga mania de achar que estou no controle. Entrego até a página que consigo. Procuro descobrir nas leituras possíveis de cada acontecimento se há alguma lição que me cabe aprender, porque muitas vezes há. Inúmeras vezes, há.
Esse ensaio de postura não me livra dos imprevistos do caminho. Da sacudida provocada pelos ventos mais fortes. De embaraços inimagináveis. De surpresas doídas que criam leito para as lágrimas vertidas, sem escala, do coração. Isso nem sempre me livra das ciladas que, sem perceber, eu mesma monto para mim com todo requinte. Mas, desde que comecei a trocar a perspectiva da leveza pela perspectiva do peso, minha vida vive mais em paz. Não tenho solução imediata para boa parte das inquietações que me visitam, mas eu coloco uma música, às vezes acendo um incenso, ofereço para elas uma xícara de chá ou uma taça de vinho, e conversamos sobre a melhor maneira para convivermos até que seja possível nos afastarmos e deixar a vida simplesmente prosseguir. Até onde eu percebo, a vida, criativa que é, sempre arruma formas para se organizar de novo, e prossegue. Às vezes, sejamos sinceros, até melhor do que antes. A fé sabe coisas que eu não sei.
Ana Jácomo
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Olá ! Sua visita é muito importante pra mim... Ela enche meu coração de alegria...Não saia sem deixar o seu carinho...Beijos